sábado, abril 02, 2016

Jantar Comunitário

As pessoas presentes neste jantar comunitário, que vivem na rua ou em situações muito precárias, são, para as outras, como se fossem “invisíveis”. As pessoas passam por eles e olham para o lado, não as querem ver, no fundo não querem ser confrontadas com aquele outro. Alfredo, o responsável pela Associação "Serve the City" convidou-nos para nós, segundo disse, tornámo-los “visíveis”. Para os desenharmos temos que olhar muitas vezes, temos que observar todos os pormenores, as suas expressões, como se vestem, os seus gestos. Serem o objecto, pelo menos durante uns minutos, da nossa (máxima) atenção.




A meio do jantar consegui um lugar numa mesa. Chamou-me a atenção um senhor que abriu uma pasta e mostrava desenhos aos outros companheiros de mesa. O pintor é o Dacosta (nome artístico de Vítor da Costa) com quem conversei sobre os seus recentes êxitos artísticos. Ao meu lado esquerdo estava Tito, que veio de África já adulto e vive em Carcavelos, perto da praia, o sítio mais parecido com o lugar de onde veio. Do lado direito o Luca, geógrafo italiano que está cá a estudar os tremores de terra. O Joaquim estava mais atento à comida e a Sandra era muito simpática. O Rodrigues e o Carlos eram homens calados que só observavam.


No fim do jantar comprei uma pintura ao Dacosta. O suporte em papel, técnica mista, um abstracto. Para ele é África, a sua origem, com rios, pássaros, o sol a pôr-se, árvores, tudo o que nós quisermos que lá esteja. O título é "O delicioso lugar de estar".




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