As pessoas presentes neste jantar comunitário, que vivem na rua ou em situações muito precárias, são, para as outras, como se fossem “invisíveis”. As pessoas passam por eles e olham para o lado, não as querem ver, no fundo não querem ser confrontadas com aquele outro. Alfredo, o responsável pela Associação "Serve the City" convidou-nos para nós, segundo disse, tornámo-los “visíveis”. Para os desenharmos temos que olhar muitas vezes, temos que observar todos os pormenores, as suas expressões, como se vestem, os seus gestos. Serem o objecto, pelo menos durante uns minutos, da nossa (máxima) atenção.
A meio do jantar consegui um lugar numa mesa.
Chamou-me a atenção um senhor que abriu uma pasta e mostrava desenhos aos
outros companheiros de mesa. O pintor é o Dacosta (nome artístico de Vítor da
Costa) com quem conversei sobre os seus recentes êxitos artísticos. Ao meu lado
esquerdo estava Tito, que veio de África já adulto e vive em Carcavelos, perto
da praia, o sítio mais parecido com o lugar de onde veio. Do lado direito o
Luca, geógrafo italiano que está cá a estudar os tremores de terra. O Joaquim
estava mais atento à comida e a Sandra era muito simpática. O Rodrigues e o
Carlos eram homens calados que só observavam.
No fim do jantar comprei uma pintura ao
Dacosta. O suporte em papel, técnica mista, um abstracto. Para ele é África, a
sua origem, com rios, pássaros, o sol a pôr-se, árvores, tudo o que nós
quisermos que lá esteja. O título é "O delicioso lugar de estar".
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